
Covid-19: INSA superou desafios que geraram avanços na investigação
Os anos da pandemia de covid-19 foram “muito difíceis” no Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA), mas os desafios enfrentados impulsionaram uma “evolução extraordinária” na investigação e na capacidade de resposta a emergências de saúde pública.
Este período foi recordado à agência Lusa pelo presidente do INSA, Fernando Almeida, quando se assinalam, a 11 de março, cinco anos que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia de covid-19, uma doença que causou cerca de 30.000 mil mortes em Portugal, fechou fronteiras, empresas, escolas, alterou comportamentos sociais e representou um desafio para a investigação e os sistemas de saúde.
“É bom que nunca nos esqueçamos de que já passaram cinco anos. Costumo dizer sempre em tom muito sério que o maior risco pós-pandemia é, de facto, o esquecimento. Esquecermos as organizações, as pessoas, a sociedade, tudo. E esquecermos que já passou e já não há mais nada. Não é assim”, advertiu.
Refletindo sobre esse período, Fernando Almeida afirmou que foram “tempos muito difíceis”, mas de grandes desafios: “Olhamos agora para trás e vemos que fizemos uma evolução extraordinária na investigação”.
Fernando Almeida exemplificou com os testes de diagnóstico da covid-19, que passaram rapidamente a testes rápidos e pouco depois a poderem ser realizados em casa.
Além de ter sido “um processo de investigação fantástico”, foi de “uma rapidez incrível” e de grande capacidade de resposta, em que o INSA teve “um papel relevante, não só na própria casa”, mas também na colaboração com os laboratórios e instituições públicas e privadas e na ligação com a academia.
“Foi um trabalho brilhante (…). Foi difícil, é claro que foi. Não havia máscaras, luvas, fatos, não havia reagentes, não havia zaragatoas. Não estávamos de facto preparados, mas a velocidade com que nos preparámos foi, de facto, digna”, declarou.
Portugal integra o projeto da União Europeia “rescEU”, que consiste numa reserva com todo o material que for necessário no caso de um novo evento de emergência de saúde pública, o que leva Fernando Almeida a afirmar: “Estamos perfeitamente preparados para responder com capacidade”.
Na Unidade de Tecnologia e Inovação do INSA, que viu a sua capacidade reforçada com um equipamento financiado pela União Europeia capaz de fazer, por exemplo, a sequência completa do genoma do SARS-CoV-2, Fernando Almeida afirmou que Portugal foi “um exemplo” na capacidade de testagem.
Contou que nos primeiros dias da covid-19, cujos primeiros casos foram detetados no final de 2019 na cidade chinesa Wuhan, o INSA realizava 2.000 testes por dia e, no dia 30 de dezembro de 2021, conseguiu fazer 400 mil.
“Além da testagem, a vacinação foi a pedra de toque de todo este combate durante os dois anos e meio de pandemia”, disse, realçando também o empenho “extraordinário” da população.
Questionado se a população aceitaria da mesma forma medidas como o confinamento numa nova pandemia, respondeu: “É uma pergunta para um milhão de dólares”.
Mas, ressalvou, “tudo depende do contexto e da capacidade de informação”, considerando que “o cansaço pandémico” é o maior problema.
Apesar disso, acredita que, se as pessoas percecionarem o perigo e a vulnerabilidade da situação, e entenderem que não se trata de algo que apenas acontece aos outros, irão colaborar da mesma forma.
Fernando Almeida lembrou os milhares de mortos no país, afirmando que “foi um drama, mas que podia ter sido pior” se Portugal não tivesse a capacidade de resposta que demonstrou: “Foi um dos países que melhor combateu a pandemia”.
Na linha da frente deste combate estiveram, entre outros investigadores, Raquel Guiomar e Carlos Silva que dedicaram longas horas dos seus dias a analisar a evolução do SARS-CoV-2, amostras suspeitas de covid-19 e a determinar o famoso “Rt”.
À Lusa, recordaram os desafios enfrentados num período de incertezas em que a investigação foi crucial para o desenvolvimento de vacinas, tratamentos, estratégias de prevenção e para entender o comportamento do novo vírus.
“O primeiro desafio foi ter prontidão para detetar o vírus e, no fundo, permitir que os casos suspeitos a nível nacional fossem rapidamente detetados”, destacou a coordenadora do Laboratório nacional de referência para o vírus da gripe e outros vírus respiratórios.
Raquel Guiomar contou que “o primeiro alerta” chegou no último dia de dezembro de 2019 e que poucos dias após o coronavírus ter sido identificado, o INSA já tinha o diagnóstico laboratorial pronto para fazer a deteção dos casos.
“Foi o primeiro desafio superado pelo laboratório”, afirmou a investigadora, contando que em fevereiro foram realizadas cerca de 105 amostras de casos suspeitos, todos negativos, até que em 02 de março foi confirmado o primeiro caso em Portugal.
Para Carlos Dias, coordenador do Departamento de Epidemiologia do INSA, “o maior desafio” foi reorganizar a sua equipa para que se concentrasse nesta ameaça, o que fez com que, durante os anos pandémicos, três quartos dos profissionais se tivessem dedicado apenas a esta missão.
“Felizmente, o serviço também tinha sido chamado para ameaças anteriores, não tão graves, e, portanto, mantinha um bom nível de capacidade e de profissionais capazes e conhecedores”, realçou o especialista em saúde pública.