
Escola de Hotelaria propõe nova oferta formativa
As portas da Escolas de hotelaria e Turismo de Coimbra (EHTC) estão abertas esta semana para quem quiser conhecer o funcionamento, a oferta formativa, apoios sociais que assegura, visitar as instalações e também ter oportunidade de saborear um «almoço requintado». «Como só nós aqui sabemos fazer». Um convite alargado a todo o público, mas particularmente aos estudantes que procuram um rumo para o futuro, deixado ontem pelo diretor da EHTC, no arranque da Semana Aberta.
O evento é também uma oportunidade para divulgar a oferta formativa, salientou José Luís Marques, que considera os alunos «embaixadores da escola» e, como tal, os maiores «divulgadores dos seus cursos». E há novidades para o próximo ano letivo. «Quereremos abrir uma turma de Técnico de Alojamento», disse. Trata-se de um curso de nível 4, que pode representar uma “terceira via” para alunos que, querendo ingressar na EHTC, não se “encaixam” nas duas vias atualmente disponíveis. Ou seja os cursos de Cozinha/Pastelaria e Restaurante/Bar. Um curso que permite «obter uma profissão e trabalhar ou continuar a estudar», disse, sublinhando a «grande empregabilidade» que o setor da hotelaria oferece, o que constitui mais um aliciante para esta formação.
José Luís Marques passou em revista toda a oferta da EHTC e destacou, em particular, os cursos Técnicos de Serviço de Restauração e Bebidas e de Cozinha e Pastelaria. «São cursos intensivos», sublinhou, atestando que os alunos obtêm o 12.º ano e um curso profissional com «grandes possibilidades de emprego», cujo acesso exige o 11.º ano.
Para José Luís Marques não restam dúvidas que, seja na área do Turismo ou da Hotelaria, em cursos intensivos ou normais, de nível 4 ou 5, ou inclusive uma licenciatura (em gastronomia, numa parceria com o Politécnico de Coimbra), as possibilidades são inúmeras para encontrar na EHTC uma «resposta de futuro». Isso mesmo demonstrou o filme, estreado ontem, feito «com base em histórias reais e em pessoas reais».
O diretor referiu, ainda, dois momentos particulares desta Semana Aberta. O primeiro amanhã, às 17h00, um workshop com a Confraria do Arroz-Doce, sobre as histórias e receitas deste doce tradicional. Um segundo é o “Boarding Pass – Feira de Emprego e Carreiras da EHTC”, que acontece na sexta-feira, aberto aos alunos desta e de todas as escolas e ao público em geral, que reúne diversas empresas turísticas e hoteleiras que apresentam os seus programas de recrutamento de novos profissionais, ofertas de trabalho e de estágio.

Degustar sabores com História
O professor e investigador João Pedro Gomes foi o primeiro convidado da Semana Aberta e deu a conhecer o trabalho que desenvolveu nos últimos 10 anos. Uma viagem pela história da doçaria tradicional portuguesa que apresentou alguns dos produtos mais icónicos, a começar pela marmelada. «Uma receita que encerra 1.200 anos de História», afirmou. Um produto referido por Galeno (129-216), como um bolo, feito na Síria, com mel e polpa de marmelo. «Era uma forma de conservar o marmelo», explicou, dando nota do produto reconhecido na antiguidade como «saudável» e com «propriedades medicinais». Tanto assim era que em 1620, no Hospital de Todos os Santos, em Lisboa, se faziam «mais de 100 arrobas de marmelada por ano», aqui já com açúcar. «Portugal destaca-se, no século XVII, na Europa, como grande produtor de marmelada», que se «vendia aos quadrados, na rua». Hoje, a marmelada branca e Odivelas ostenta o selo de Indicação Geográfica Protegida.
Numa explicação acompanhada pela degustação de produtos, João Pedro Gomes apresentou as queijadas, possivelmente com raízes muçulmanas e originariamente um prato salgado, que podia ou não ter uma cobertura de mel, até que a “invasão” do açúcar o tornou no popular doce, hoje com «20 ou 30 variedades».
Também para conservação e igualmente com propriedades medicinais, «para tratar quenturas», encontra-se a pera cristalizada, já consumida na antiguidade clássica. No século XVI os confeiteiros portugueses eram, por lei, obrigados a cristalizar pera, marmelo, abóbora, pétalas de rosa e talos de alface, entre outros frutos e legumes.
Mais recente, do século XVII, é a receita dos ovos moles, referido pela primeira vez por Domingos Rodrigues, que foi cozinheiro do rei. 0,5 kg de açúcar e 15 gemas são os ingredientes necessários, explicou o investigador. Ovos moles enriquecidos, mais tarde, com outros ingredientes.
Referência também para o chocolate, que até meados do século XIX se consumia exclusivamente como bebida e que foi dado a provar, e para a história dos pudins, um clássico das sobremesas lusas, cuja origem está no “boudin” francês, do século XV, um enchido feito com sangue de porco. Mais tarde, em Inglaterra surge o “pudding”, feito com leite, pão, ovos, açúcar e passas. O cozinheiro Francisco Borges Henriques terá feito a “transição” para o receituário nacional e data de 1905 a receita de pudim de ovos à moda de Coimbra.
«Tudo tem uma história. Às vezes com 100 anos, outras com mil», disse João Pedro Gomes, que todos os meses dinamiza as Oficinas de Gastronomia na EHTC. No fim de semana vai estar na Feira de Doçaria de Coimbra e posteriormente no Festival do Chocolate de Óbidos.