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Eiras cumpriu tradição secular e agradeceu proteção divina


Segunda, 27 de Maio de 2024

O imperador e o povo de Eiras deslocaram-se ontem de manhã a Santo António dos Olivais, ao Espírito Santo, numa romaria de agradecimento que tem raízes no século XVI. Depois da viagem, com os nobres a cavalo e o povo a pé, pagou-se a promessa feita aquando da peste que devastou povoações, em 1569.
Coroado imperador no final das festas de Eiras em honra do Divino Espírito Santo, Bernardo Estanqueiro colocou-se a caminho de Celas, em charrete, num cortejo em que seguiam cavaleiros e povo, uns vestidos a rigor, com trajes de épocas passadas, outros um pouco mais contemporâneos. No meio do povo seguia, a pé, Luís Correia, o presidente da União de Freguesias de Eiras e São Paulo de Frades. Depois de passar pelo Ingote, Vale Figueiras e Coselhas, a romaria foi recebida no Mosteiro de Celas, cumprindo a tradição, como sublinhou o autarca Luís Correia.
Os relatos antigos falam de «uma interessante festa em Celas: a Festa do Imperador de Eiras (…), uma pequena povoação situada a cerca de uma légua ao norte da cidade. Os seus habitantes, segundo muito antiga tradição, vendo que a peste havia invadido Coimbra, começaram, capitaneados pelo pároco, a implorar o auxílio celeste, dirigindo principal ou exclusivamente as suas instantes preces ao Espírito Santo».
Terão sido atendidos e a peste não chegou a entrar em Eiras, o que levou à promessa de todos os anos elegerem, de entre os melhores homens da terra, um «a quem haviam de tributar as ofertas dos seus frutos, para que com o nome de Imperador do Espírito Santo festejasse ao mesmo Divino nos dias de Páscoa da Ressurreição e do Pentecostes».
Ao receber ontem os romeiros no mosteiro, o presidente da Irmandade de Nossa Senhora da Piedade de Celas, António Fonseca, socorreu-se de uma obra da historiadora Maria do Rosário Morujão para explicar que os agricultores escolhiam um para ir ao mosteiro da Ordem de Cister pagar os foros de todos, o que terá acontecido a partir do século XIV.
No mosteiro, antes de oferecer merenda aos romeiros, a Irmandade ouviu cânticos ao Espírito Santo pelos grupos Etnográfico do Brinca, Folclórico e Etnográfico da Cova do Ouro e Serra da Rocha e da Marcha Popular de Eiras. Luís Correia agradeceu as presenças e participações (apesar de ser dia de cortejo da Queima estiveram cerca de 200 romeiros) e o autarca anfitrião, Francisco Rodeiro, mostrou orgulho e gosto em receber o imperador, com o presidente da Junta de Freguesia dos Olivais a garantir que o largo vai passar a ter mais dignidade quando saírem os carros que ali ficam estacionados.
Dentro do templo, os cantares deram vivas “a quem há de reinar, o Espírito Santo nos há de ajudar”. Bernardo Estanqueiro está ciente da responsabilidade de ser o novo imperador. Nascido e criado em Eiras, o jovem de 23 anos, coordenador da formação do eirense e treinador dos sub 11, aceitou ser imperador por saber a importância que a tradição tem para a freguesia.
José Coelho, do Grupo Etnográfico do Brinca, é presença habitual na romaria e ia de traje antigo, calçando tamancas. Numa conversa “a correr”, com a romaria já a caminho dos Olivais, lá foi dizendo que o calçado era assim antigamente, para a maioria do povo, sendo ele próprio neto de um tamanqueiro.
Os romeiros dirigiram-se depois a Santo António dos Olivais, onde está a decorrer a festa do Espírito Santo. No anfiteatro ao ar livre, tiveram um almoço partilhado, antes de atuações dos grupos participantes (além dos já referidos esteve também o Grupo de Gaiteiros 3 Moinhos). No regresso houve “Bodo do Imperador” em Eiras, no Terreiro da Fonte, concluindo-se assim as festas do Espírito Santo, iniciadas a 17 de maio. |

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